Não parem as máquinas*

Por Alberto G. Martins

É preciso entender porque não se comunicar em tempos de crise é um erro

Trabalho há 13 anos com comunicação para Turismo e Hotelaria e sempre sofri com as crises. Não porque eu quisesse, mas por conta da miopia do setor em continuar considerando a comunicação como um gasto e não como um investimento. “Tem crise? Corta o marketing, a assessoria de imprensa, a publicidade!”

Agora não está sendo diferente. Em tempos de pandemia causada pelo novo coronavírus, muitas empresas do setor tomaram a mesma medida, na tentativa de diminuir o impacto econômico em seus negócios. Mas será que pensar no curto prazo a comunicação da empresa funciona? A resposta é não.

Construir a reputação de uma marca leva tempo, mais do que pensamos ou o fluxo de caixa pode permitir. E fazer nada só vai alongar mais esse prazo, trazer mais dificuldades de reposicionamento. Mais do que nunca é preciso contar com uma equipe especializada para ajustar e adaptar esse planejamento em tempos difíceis.

O momento pede cautela, atitudes empáticas e decisões cirúrgicas. Não cuidar do negócio pode significar seu óbito. Mas o que fazer com a comunicação da empresa quando ela é diretamente impactada por um vírus letal? Tratá-la.

E como em um receituário, sugiro alguns procedimentos a tomar:

1-   Reúna sua equipe de marketing e reavalie o planejamento anual

2-   Revise o tom das comunicações

3-   Suspenda ações promocionais

4-   Invista em comunicação institucional

5-   Ajuste os canais, priorizando seus próprios como redes sociais, blog e e-mail

6-   Reforce laços com a imprensa sendo fonte de informação, sugerindo pautas relevantes

7-   Lembre dos influenciadores digitais

8-   Aproxime-se dos seus clientes, os internos e externos

9-   Negocie contratos

10- Valorize seus parceiros e fornecedores

11- Prepare-se para um novo mundo

O mundo deu um reset e quando a crise passar nada será como antes. Manter as máquinas da comunicação em funcionamento, mesmo que em ritmo desacelerado, facilitará a retomada e o arranque de sua empresa em relação aos concorrentes.

Agora não é hora de largar a mão de quem está tanto tempo ao seu lado. Unir as experiências e discutir as aflições conjuntamente pode significar a sobrevivência de toda a cadeia. Converse com suas agências de comunicação, unam-se e reorganizem o planejamento, pois tudo o que havia sido programado era baseado no mundo em que vivíamos. É passado.

O segundo semestre ainda nos apresenta algumas possibilidades: serão quatro feriados nacionais prolongados que poderão ajudar nos resultados do ano, sem contar outros municipais e estaduais. As férias de verão serão ainda mais necessárias para amenizar os impactos causados pelo isolamento social que estamos vivendo. Reconectar-se com a família e os amigos nunca será tão importante como durante as festas de fim de ano.

Aposte na região primária onde seu empreendimento está localizado e planeje a comunicação para atrair seus clientes, principalmente os habitués, que podem viajar de carro. Como a malha aérea da segunda metade do ano ainda é incerta, melhor não contar com mercados emissores a mais de 300km de distância.

Como diriam nossas mães e avós, “Vai passar!”. E quando isso acontecer, quem escolheu continuar na ativa, se comunicando, propondo, ajudando e, mais ainda, contribuindo para as relações pessoais poderá enxergar as manchetes positivas surgindo com mais clareza e discernimento antes que os demais.

 

*Artigo escrito por Alberto G. Martins em abril/2020 e publicado originalmente na revista Hotelnews, edição nº 414, página 60.

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